Por Tatielly Baião Bonan
Psicóloga
Grande parte das pessoas pensa imediatamente na morte quando ouve a palavra câncer. Embora a morte esteja sempre presente enquanto possibilidade, costumamos evitar esse assunto diante da angústia que a finitude nos causa. Mas quando nós mesmos ou alguém que amamos adoece gravemente, ainda que queiramos fechar os olhos e negar o fato, o tema da morte está ali, à espreita, norteando nossos pensamentos e atitudes.
A morte enquanto símbolo pode nos ajudar a refletir sobre a vida que temos vivido. O tempo é cruel, não para e se não nos atentarmos, nos engole. O fato de morrermos é também o que nos convoca à vida. E que vida queremos ter? Que relações queremos manter e com qual qualidade? O que fazemos a cada dia que nos coloca na direção do que sonhamos? O que você fez hoje?
Um diagnóstico pode elevar nossa consciência e responsabilidade com o tempo. Se você soubesse que morreria no próximo 04 de junho, ou em dezembro, daqui 15 dias, ou amanhã, continuaria vivendo tal qual o tem feito? Se sua resposta é “não”, você tem um problema: talvez você esteja longe de onde gostaria de estar, e precisará rever as escolhas que tem feito para poder viver a melhor vida possível.
Quando adoecemos, algumas coisas precisam morrer. Talvez possamos perceber o quanto damos importância aos eventos insignificantes, o quanto nos aborrecemos com situações pequenas e que poderiam ser conduzidas de modo mais tranquilo. Precisa morrer em nós o que alimenta as desavenças, as intrigas, o egoísmo, a falta de reconhecimento do outro, o muro que nos afasta e impede de demonstrar afeto. Precisa morrer aquilo que nos faz ignorar os que amamos e que ainda estão ao nosso lado.
Morrendo essas coisas, de um diagnóstico difícil pode ser intensificado o desejo de viver. E não um viver qualquer, mas um viver com intenção. Buscar ser feliz de propósito! Essa busca nasce da reflexão e consciência do que te faz bem. Você sabe o que te faz feliz, o que aquece seu coração e alimenta sua alma? Se você ainda não tem essas respostas, ocupe-se em buscá-las. Encare o fato de que um dia irá morrer, estando você doente ou não neste momento.
Para muitos, pensar na morte beira o insuportável, mas rompido esse estágio, as intensas reflexões sobre a morte podem mudar completamente nossa forma de viver e de encarar o tratamento que se iniciará. Suas emoções podem oscilar muito no pós diagnóstico; a raiva, a dúvida, a tristeza, o medo, a solidão e a culpa podem estar lado a lado da esperança e do amor. Sua rotina vai mudar, você passará a ir a médicos, fazer exames e tratamentos. Muitas vezes, as medicações causarão grande desconforto, haverá dias dificílimos e mudanças na aparência. Sua vida social, seus relacionamentos familiares e de trabalho poderão ter impactos significativos. Você precisará aprender a contar com a ajuda das pessoas.
E quando estiver aqui, lutando por sua saúde, o amor e cuidado dos que te cercam, sua força de viver e a força espiritual serão seus aliados. E nós, psicólogos, podemos estar com você e te ajudar a processar e compreender os impactos do diagnóstico enquanto uma nova versão de você nasce e se fortalece.
Tatielly Baião Bonan é Psicóloga especialista em Psicanálise, Terapia cognitivo-comportamental, Terapia de família e Coach Parental (CRP 1314/16).
O Family Care está localizado no Shopping Cachoeiro: Rua 25 de Março, 33, sala 212 – Centro. Telefone: (28) 99959-0650. Siga Tatielly no Instagram: @tatiellybonan