Aumento de casos de bruxismo infantil preocupa pais e dentistas

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O bruxismo é uma atividade involuntária parafuncional, rítmica e espasmódica do sistema mastigatório produzida por contrações rítmicas ou tônicas do masseter e de outros músculos mandibulares. É caracterizado pelo ato de ranger ou apertar os dentes, tanto durante o período diurno como noturno. O bruxismo pode ocorrer de forma consciente ou inconscientemente.

De acordo com a especialista em DTM Alécia Louzada, o bruxismo em crianças tem se tornado uma preocupação crescente nos últimos anos devido ao seu impacto negativo na qualidade de vida. E também por ser considerado um importante fator de risco para disfunções temporo-mandibulares e dores orofaciais.

“Os sinais e sintomas mais frequentes são os desgastes oclusais e/ou incisais, destruição das estruturas de suporte, hipersensibilidade pulpar, mobilidade dentária, fratura de cúspides e restaurações, dores e distúrbios nas articulações temporomandibulares (ATM), hipertofia do masseter e cefaléia na infância”, revela doutora Alécia.

Conforme salienta a especialista, o bruxismo pode também estar associado a parasomnias (fenômenos que ocorrem exclusivamente durante o sono), caracterizando-se por graus diferentes de excitação, como enurese noturna, falas durante o sono e sono agitado. É considerada a atividade parafuncional mais danosa para o sistema estomatognático.

“Durante a infância, o bruxismo é mais severo nas crianças em idade pré-escolar devido às características estruturais e funcionais dos dentes decíduos, embora também apareça em crianças maiores e na dentição permanente”, elucida a especialista em DTM, que ressalta: estudos longitudinais têm indicado entre 35 e 90% das crianças com este distúrbio evoluindo com sintomas na idade adulta.

Segundo doutora Alécia, em bebês o bruxismo pode ser observado logo após a erupção dos incisivos decíduos, por volta de um ano de idade. O problema apresenta etiologia multifatorial que pode ser explicada por fatores locais, sistêmicos, psicológicos, ocupacionais e hereditários.

Dentre os fatores locais, pôde-se observar maloclusões, traumatismo oclusal, contato prematuro, reabsorção radicular, presença de cálculo dental, cistos dentígeros, dentes perdidos, excesso de material restaurador e tensão muscular. Há evidências de que o bruxismo em crianças pequenas pode ser consequência da imaturidade do sistema mastigatório neuromuscular.

“Sistemicamente deficiências nutricionais e vitamínicas, alergias, também distúrbios gastrintestinais, desordens endócrinas, paralisia cerebral, Síndrome de Down e deficiência mental podem estar relacionadas ao desenvolvimento do hábito. O bruxismo apresenta incidência de 60% em crianças alérgicas, isto é, três vezes maior do que entre crianças não alérgicas”, aponta a especialista.

Tensão emocional, problemas familiares, estado de ansiedade, depressão, medo, crianças em fase de auto-afirmação, podem atuar como fatores de origem psicológica e ocupacional para o desencadeamento desta condição. O bruxismo é considerado uma resposta de escape, uma vez que a cavidade bucal possui um forte potencial afetivo, além de ser um local privilegiado para a expressão de impulsos.

Com relação aos fatores hereditários, um estudo sobre predisposição genética confirmou que pais que possuíam o hábito na infância frequentemente apresentam filhos que apertam ou rangem os dentes. Mais recentemente, um estudo relatou o comportamento de neurotransmissores, principalmente a L-dopamina, no desenvolvimento de bruxismo – revela doutora Alécia.

A especialista explica ainda que o bruxismo infantil pode ser caracterizado pela presença de desgastes da superfície dentária, desconfortos musculares e articulares, atuando como coadjuvante na progressão da doença periodontal destrutiva e contribuindo para o desenvolvimento de falsa Classe III, além de acelerar a rizólise de dentes decíduos e provocar alterações na cronologia de erupção dos dentes permanentes. Descreve-se, também, a possibilidade de o bruxismo favorecer o apinhamento dental.

“Como o bruxismo é um reflexo subconsciente não controlado e leve, na maioria das vezes é desconhecido ou despercebido pelos pacientes e seus familiares. Assim, torna-se necessário estabelecer o diagnóstico precoce das possíveis alterações que poderão ocorrer, antes que o ciclo vicioso resulte em dano grave e permanente”, alerta.

É de fundamental importância realizar a anamnese completa da criança em ambiente tranquilo, contando com a participação dos pais para obter informações sobre a história médica geral, hábitos, queixa de dor, relacionamento familiar e social, e avaliação do perfil psicológico da criança.

Doutora Alécia salienta que o exame clínico minucioso, com palpação, ausculta, avaliação de tecidos moles e da língua, verificação da movimentação mandibular, análise da oclusão, bem como os exames radiográficos são importantes no diagnóstico preciso das alterações do sistema estomatognático. “É de fundamental importância o diagnóstico diferencial para que o bruxismo não seja confundido com outros movimentos faciais do sono”, diz.

“Concluímos, então, que o bruxismo na infância é uma disfunção que vem crescendo em frequência na sociedade moderna. A carência de atendimento pode acarretar danos severos na cavidade bucal e na musculatura facial. O bruxismo é de importante diagnóstico e deve ser realizado por profissional especializado. O tratamento precoce em crianças visa manter a perspectiva de controle e prevenção de danos aos componentes do sistema mastigatório, proporcionando bem-estar e conforto à criança de forma eficaz e duradoura”, finaliza a especialista.

 

Drª Alécia Silva Longo Louzada

Especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial
Especialista em Ortopedia Funcional dos Maxilares
Mestre em Ortodontia
(28)3522-9430 (28)3521-0281 (28)98114-1183

 

Foto: Erika Medeiros



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