Nos momentos com amigos e famílias médicos se tornam chefs de culinária

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Trocar o jaleco pelo avental, o estetoscópio pela colher de madeira e os livros de medicina por livros de receitas é o que fazem alguns de nossos médicos quando surge uma brecha na agenda agitada da profissão. Das quatro paredes do consultório para a cozinha, é hora de colocar em prática o amor pela culinária e preparar deliciosos pratos para embalar momentos agradáveis com seus familiares e amigos.

Para doutor André Maitan, ginecologista e obstetra, o interesse pela culinária começou cedo. “Desde bem jovem eu gostava de observar e ajudar minha mãe na cozinha, e assim fui aprendendo e tomando gosto pelo preparo dos alimentos”, relata. Massas, carnes e frutos do mar compõem os pratos que mais gosta de preparar. “Prefiro pratos sem grandes sofisticações, mas saborosos”, destaca.

Muito mais do que simplesmente cozinhar, o médico descreve o hobby como uma terapia contra o estresse da rotina profissional puxada. As receitas surgem das mais diversas origens: programas de TV, revista e de outros colegas de profissão que compartilham o gosto pela culinária.

Quando perguntando sobre a sensação de cozinhar e apreciar uma boa comida ao lado da família e amigos, doutor André responde: “Receber quem gosto e servir a eles meus pratos é algo que me traz uma sensação de felicidade, são momentos em que esqueço meus problemas. Para mim todo o ritual, desde comprar os ingredientes, prepara-los, servir e degustar o prato fazem parte desse prazer”.

O interesse pela culinária no caso da também ginecologista Rachel Carneiro começou há cerca de 16 anos. Tudo teve início ao conhecer o marido. “Ele já cozinhava muito bem e eu não fritava nem ovo”, brinca. “Gradativamente passamos a cozinhar juntos e a assistir muitos programas de culinária, e assim meu interesse foi despertado”, conta.

A preferência da médica está na elaboração de pratos doces, como bolos e pavês, por exemplo. Quando necessário, porém, também se aventura na preparação de pratos salgados. Sobre a sensação que cozinhar lhe traz, ela descreve: “Se concentrar numa atividade tão diferente da profissão médica, sem todo o estresse da responsabilidade no dia-a-dia, somente pelo prazer de se superar no desafio de fazer um prato saboroso, é sem dúvida uma terapia”.

A inspiração para a elaboração de seus pratos vem, basicamente, dos diversos programas de culinária – sejam nacionais ou até mesmo internacionais, aos quais assiste com o marido sempre que a agenda permite. “A sensação de receber a família e os amigos e ver a satisfação em seus olhos não tem preço”, comenta sobre as ocasiões em que cozinha para eles.

Amor como

INGREDIENTE

Pediatra ama preparar para as filhas uma tradicional receita de família

Muito mais do que o glamour dos pratos refinados e muito além da gastronomia sofisticada está o amor pela arte de cozinhar. E de cozinhar para quem você ama. Em meio à agenda apertada do consultório, a pediatra Márcia Borges Vieira de Oliveira encontra tempo para preparar o prato preferido das filhas: o tradicional empadão.

“É uma receita de família, herança da minha mãe, que era uma exímia cozinheira. Dona Leda amava cozinhar para a família. Passávamos horas à beira do fogão conversando sobre as coisas da vida. São lembranças gostosas e inesquecíveis da minha infância aqui em Cachoeiro”, afirma a médica.

As filhas Daniele e Marina moram em Belo Horizonte e Vitória, respectivamente. Quando visitam a terra natal, a mãe dá um tempo nos atendimentos pediátricos para levar ao forno uma antiga receita de família ─ cujo ingrediente principal não pode faltar: o amor. “É o tempero essencial que não pode faltar no empadão”, confessa a pediatra.

Além do amor, o prato principal das filhotas da doutora Márcia leva peito de frango desfiado, azeite, cebola, alho e o tal “segredo de família”. Prato servido, a festa é completa. “É um prazer cozinhar. Algo maravilhoso. Por conta da profissão fico um pouco limitada ao consultório, mas nada que impeça de cozinhar para quem amo”, reflete a médica. E a sobremesa? “Gelatina colorida. Minhas filhas amam!”.

Sabor que vem

DAS ÁGUAS

Angiologista apaixonado pela pesca adora preparar seus próprios peixes e apreciá-los com a família e convidados, sempre acompanhados de um bom vinho

A história do angiologista Ricardo Girelli com a culinária foi uma consequência de seu grande hobby: a pesca. Para o médico, não há nada melhor do que pescar e, em seguida, preparar seu próprio peixe da maneira que gosta e acha mais aprazível. Para cada variedade de peixe, uma receita diferente e a escolha cuidadosa dos ingredientes e adereços que irão acompanhá-lo.

Para doutor Girelli, porém, nada se compara a um bom peixe assado. Retirado, especialmente, em suas aventuras pesqueiras no rio Xingu (Mato Grosso). Os peixes de carne branca como a curvina e o robalo são seus preferidos para a preparação dessa receita, que na sua opinião proporciona o verdadeiro sabor do peixe. “Uma das minhas preparações prediletas é o peixe no sal, um prato simples e saboroso feito basicamente com sal grosso”, descreve.

O médico defende que cozinhar não é apenas um hábito. Junto disso surge todo um envolvimento social, muita conversa e boas risadas. “Nem sempre um peixe é feito a duas mãos, às vezes a quatro, seis mãos, onde a gente degusta um bom vinho, conversa, põe os assuntos em dia, até que o prato fique pronto e a gente possa comê-lo”, relata.

Por falar em vinho, essa é outra paixão do angiologista, que participa de confrarias e não dispensa um bom vinho para acompanhar bons pratos. “O vinho sempre agrega à uma boa mesa, é uma bebida prazerosa, com milhares de anos de existência e, inclusive, é mencionado na Bíblia”, argumenta. Sobre a escolha da bebida de acordo com o prato, ele afirma que não se segue mais tantas regras: o segredo é a harmonia entre os sabores.

Estreitando

RELAÇÕES

“Enxergo a cozinha como um fator de aproximação, aprendizado, carinho e divertimento, uma bela forma de reunir a família e amigos”, descreve médica

“Durante a infância já gostava de ajudar e brincar de cozinhar. Acredito que esta arte já faz parte da essência de cada um, porém, quando se convive com pessoas que gostam de cozinhar, a vontade e a curiosidade vão aumentando, então assim desenvolvi o gosto pela culinária e aos poucos fui aprimorando os sabores, melhorando as receitas e me interessando cada vez mais”, revela doutora Carolina Ultramar, especializada em Medicina Estética e Cirúrgica Avançada e pós-graduada em dermatologia.

Influenciada principalmente pela mãe, que sempre fez coisas deliciosas na cozinha, recebendo amigos e familiares em casa, a médica acredita que a questão da culinária é muito importante não só cultural e socialmente, mas até no ambiente familiar. “Principalmente hoje em dia, com acesso tão precoce às tecnologias que afastam tanto as relações familiares, acabo enxergando a cozinha como um fator de aproximação, aprendizado, carinho, divertimento e uma oportunidade de ensinar às crianças sobre o valor dos alimentos, sobre como evitar desperdícios e reunir a família e amigos”, diz.

Doutora Carolina compartilha da paixão pela culinária com o marido, com o qual viaja para observar vários estilos de culinária e diferentes temperos, sabores, técnicas, aromas, cores e texturas dos alimentos – de acordo com as comidas típicas dos locais. Sobre os pratos que mais gosta de preparar, ela comenta que são principalmente risotos, massas, molhos e carnes. “Mas às vezes me arrisco em outras áreas (risos)”, aponta.

Cozinhar com amor é uma verdadeira terapia para a médica, que acrescenta: “Ali colocamos nossas inspirações e enquanto isso ficamos perto das pessoas que nos fazem bem, relaxamos, esquecemos da correria e colocamos a conversa em dia”. Quando assiste TV, os programas de culinária são seus favoritos. “Vejo cada coisa deliciosa, aí então tentamos colocar em prática. Além de visitas a restaurantes de boa qualidade gastronômica, que sempre são um incentivo a mais a aprender novos pratos e misturas”, afirma.

Para doutora Carolina, é encantador o modo como a sensibilidade, a arte e o charme da cozinha tocam os sentidos das pessoas. “Eu sinto um prazer enorme quando cozinhamos entre família e/ou amigos. É uma festa com alegria garantida, com várias delícias incluídas (risos)”, relata.

Jessica Castelo

jessica@editoraviver.com.br

Fotos: Jonathan Lessa



A revista Viver! é publicada mensalmente há mais de 17 anos com circulação no Espírito Santo. Trata-se de uma das mais importantes revistas de saúde do Brasil, com centenas de especialistas em prol do dilema "Informação que faz bem".


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